terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre a lentidão

Segue um trecho de texto sobre a experiência do lento!!


" [...] a lentidão não precisa ser exclusivamente o oposto da velocidade. E nem deveria definir-se pelo que supostamente lhe falta. Pois ela não resulta de um traço defeituoso do corpo ou do caráter, não significa apatia, falta de imaginação ou de energia, não se assemelha a um querer sem coragem nem a um molengar alheio á realidade. A lentidão não requer degredo. É possível defini-la de diferentes maneiras e experimentar muitos de seus charmes.
[...]Os exemplos para usar de boa maneira a lentidão são diversos, cotidianos, banais, ao alcance da maior parte dos seres humanos. Não é necessário cursar universidade para aprendê-los, nem procurar algum consultório de relaxamento e de combate aos estresse. Escolher a lentidão não requer ciência nem mudanças abruptas para algum país isolado da pressa habitual. Não é preciso chegar a desertos e florestas selvagens, ao cume de montanhas e a outros locais distantes das cidades para exercê-la. É possível experimentá-la dentro das megalópoles. Seu uso pode inclusive reavivar o gosto pelo realismo mágico formulado pela estética da velocidade. E pode, igualmente, suscitar o encanto dos momentos acusados de serem somente a purgação do corpo em longas esperas.
Escolher a lentidão não se deve forçosamente à vontade de ser mais saudável no futuro, embora a saúde possa efetivamente melhorar. Também não exige a aquisição de mais idéias, mais imagens, mais deslocamentos.
Pois não se trata de acrescentar coisas, e sim de lidar com aquelas que já existem em cada um, para cada um.
Há uma semelhança entre os bons usos da lentidão e a experiência de certos tipos de cansaço.
"A inspiração do cansaço diz menos sobre o que é preciso fazer do que sobre o que se pode deixar de fazer. Cansaço: o anjo que toca o dedo de um rei que sonha, enquanto os outros reis continuam dormindo sem sonhar"


"Corpos de passagem" - Denise Bernuzzi de Sant'Anna


E aqui os escritos da experiência de memória da intervenção:

Um cheiro de pinga no chão molhado da igreja.
O peso do telefone da minha mão e a tecla 8.
Uma profunda angústia.
A noite.
Meu coração acelerando quando guardo a nota dentro do bolso da calça jeans.
Sentindo-me descolada do espaço, deslocada do tempo, separada.
Ser um catalisador, um imã.
Uma angústia de ver o tempo passar e as coisas passando através do meu corpo, no meio
daquele céu e daquelas ruas que não levam a lugar algum.
Frio.
(01/08)

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